Desde muito cedo
o rock’n’roll teve que se acostumar com perdas irreparáveis, não foi nenhum
pouco fácil quando o estilo musical ainda dava seus primeiros passos e foi
surpreendido com a morte precoce de Ritchie Valens, Buddy Holly e Big Bopper num
trágico acidente de avião em 1959, logo depois mais uma perda assustadora, Gene
Vincent morria em outro trágico acidente automobilístico no inicio da década de
60. Dai pra frente se formaram diversas lápides no panteão do rock, todos verdadeiros
mártires musicais com seu devido grau de colaboração na evolução do estilo.
Traçando um
paralelo com o rock nacional, não é difícil perceber que a lógica é a mesma.
Raul Seixas talvez tenha sido um dos primeiros grandes nomes do rock brasileiro
a nos deixar, e ainda assim depois de quase vinte sete anos sua ausência ainda
é bastante dolorida em diversos sentidos. Artista do mesmo quilate dos grandes
nomes do inicio, uma mesma linhagem que nos trouxe Little Richard, Ed Cochran,
Jerry Lee Lewys e o próprio Elvis Presley, o gene da rebeldia que desencadeou
toda a mudança de comportamento trazida pelo rock’n’roll, esse mesmo gene corria
igualmente nas entranhas do baiano de Salvador, que em pouco mais de vinte anos
de carreira deixou uma marca irretocável não só no rock brasileiro como também
em toda a música brasileira. Alguém lembra algum outro artista que teve que
lidar com tantos momentos de sucesso e ostracismo numa mesma trajetória? Existe
algum outro artista que tenha batido de frente tantas vezes com as grandes
gravadoras? Que tenha sido deportado do país e tenha sido trazido pelos mesmos
que o levaram por conta de seu inusitado sucesso no Brasil inteiro? Que segundo
ele mesmo transou com deus e o diabo? Tais facetas são exclusivas de Raul
Santos Seixas.
Nenhum outro
artista foi capaz de perceber e comprovar as similaridades do rebolado de Elvis
com o suingue de Luís Gonzaga, nenhum outro passou fome no Rio de Janeiro e
anos depois sustentava o status de cidadão de bem, com todas as benesses que o
poder aquisitivo pode proporcionar. Raul Seixas foi isso e tudo o mais, um dos
mais lúcidos artistas parido pela mesma geração que nos deu Lennon &
McCartney, Jim Morrison, Rita Lee, Arnaldo Baptista, Janis Joplin e por ai vai.
A qualidade do
discurso impresso nas suas letras é algo indiscutível e nunca comparável a
ninguém de sua geração e talvez de nenhuma outra, a junção de sarcasmo, poesia,
filosofia, politica e apontamentos sobre nosso dia a dia, ficaram gravados em
sua discografia bem como no inconsciente coletivo do povo brasileiro, há quem
diga que Raul Seixas possua uma genialidade análoga a de Bob Dylan, afirmam
ainda que caso nascesse nos Estados Unidos o sucesso de suas canções extrapolariam
as fronteiras da América.
A sua ausência é visível
em postura, atitude, qualidade textual, representatividade combativa em relação
a quase tudo no status quo, pouquíssimos artistas de nossa música ousaram meter
o dedo na ferida como ele o fazia sem nenhum pudor ou receio. De sua morte para
frente o rock nacional pareceu estar e de fato ficou órfão de uns dos seus
maiores mentores. O que aconteceu depois todos sabemos, a virada de costas do
mainstream para tudo que possuísse qualquer nesga de qualidade, bandas e
artistas em sua maioria fabricados em fôrmas destituídas de verdade artística,
o aumento cada vez gradual de uma produção musical duvidosa sem nenhuma
qualidade sonora e textual, antigos baluartes de nossa música estacionados,
mais parecendo verdadeiros karaokês de suas melhores produções. E é bem verdade
que toda vez que o negócio descer muito o nível escutaremos alguém gritar “CANTA
RAUL”. Por essas e tantas outras razões ele é e sempre será insubstituível no
país, na nossa música e em nossas vidas.
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Let´s rock baby