23 de dez. de 2015

Os três melhores discos lançados em 2015 por aqui e por lá



Por Natan Castro

Tava faltando mesmo alguém da nova safra, revisitar as formas e fórmulas que deram tão certo nos anos 70 e 80. Ouvindo o disco novo de Pélico denominado Euforia, dá uma certa euforia por nos fazer lembrar de Rita Lee, Lulu Santos, Guilherme Arantes e tanta coisa boa, dá uma saudade dos tempos que as rádios tocavam músicas boas de verdade.
Os arranjos são pop igual àqueles feitos aos moldes de antigamente, mas com timbragens advindas dessas novas tecnologias, o cara já teve música gravada por Filipe Catto e participou de importantes projetos de homenagens a grandes nomes que já se foram. Euforia nos traz música desencanada sem esforço, daquelas que surgiram deixando as coisas rolarem, disso surgiram grandes canções com menções honrosas a Sobrenatural e Olha Só.


Johnny Hooker surgiu na música brasileira em 2015, demonstrando descaradamente referencias que são visíveis em seu visual e em sua música. Dentre elas David Bowie, Madonna, Caetano Veloso, Cazuza e Ney Matogrosso, esse último infesta o visual e a postura de palco do cantor, ator e diretor de Recife. Apesar dessas tantas citações, Johnny Hooker consegue ser ele mesmo quando assume as personas trágicas que moram nos versos de suas canções.


Por certo é bem cedo pra dizer que o cara é um artista completo. Esse é apenas o primeiro disco de sua carreira, mas já surge com pelo menos três grandes músicas todas elas de apelo radiofônico, Alma Sebosa, Volta e Amor Marginal essa inclusive foi tema de novela da Globo.

Bem, mas ele cita em seu trabalho ícones da música pop, se própria de alegorias de personas alheias para compor seu visual, escreve canções de amores mal resolvidos e ainda por cima já surge tendo uma música sua como tema de novela, quanta coisa clichê! Não há duvidas, porém ele é sim um grande intérprete de suas dores e talvez o que o faça fugir das coincidências é o seu timbre vocal, que vem fazendo suas performances cheias de um Mise en scène que talvez ninguém mais fosse capaz de encenar, merece ta na lista com um dos melhores discos lançados por aqui em 2015.


                                                                                                                            
Quando o assunto é rock nacional, não existe meio termo o mais recente disco da banda Goiana Boogarins é o disco. Os caras lançaram em formato Lo-fi em 2013 o primeiro disco As Plantas Que Curam e para surpresa de todos, conseguiram um contrato com o selo de fora e logo saíram numa turnê na gringa como forma de divulgação do disco.



Apesar de uma banda novata, o primeiro trabalho da banda é um disco muito acima da média, é claro que o formato Lo-fi acaba deixando o disco bastante limitado em alguns pontos. Nesse novo disco que foi gravado numa cidade balneária da Espanha, a turma teve possibilidade de brincar com as tecnologias e gravar um disco excelente. O Boogarins com esse disco não deixa a desejar a nenhuma banda que tenha embarcado no revival da lisergia dos anos 60 tanto em voga na atualidade.  Chamo atenção para duas músicas que por sinal são de uma beleza incrível, Mário de Andrade/ Selvagem que é composta de três partes distintas e Benzin música de uma beleza poética e sonora ímpar. Disco do ano por aqui e merece não temos dúvidas de estar entre os melhores de rock por lá também.


Quem poderia achar que aquela cantora branquela de visual ultra-nerd-esquisitóide integrante da banda Sugar Cubes advinda da Islândia pudesse em pleno 2015 ainda estar no cenário da música pop? Bjork a cada ano que passava após o lançamento de cada disco novo surpreendia-nos cada vez mais, hoje seu nome já é simbólico quando o assunto é música cabeça de apelo pop. Ela já ganhou prêmios atuando em filmes e compondo trilhas sonoras, antes desse lançou discos que por sua sonoridade avançada a fez ganhar por incrível que pareça respeito de diversos fãs ao redor do mundo, além é claro de uma visível admiração por parte da critica.


Com esse seu novo disco Vulnicura a fórmula continua a mesma, o mesmo vocal estranhíssimo para uma estrela da pop music, a mesma cama sonora recheada de sintetizadores e instrumentos de cordas, e nas letras a mesma ressonância magnética das dores sentimentais da cantora, nesse em especial composto por conta de um recente término de relacionamento amoroso. Apesar desse turbilhão de estranheza é um disco bem acima da média, valendo muito a pena ouvi-lo do inicio ao fim. As vezes é bom agente trocar um pouco o calor dos trópicos por um pouco de correntes de ar frio advindas do velho continente.


O som seco de uma batida percussiva no fundo, uma parede de guitarras distorcidas e colocado no meio dessas duas coisas um vocal meio abafado. Esse é outro grande disco de 2015 de difícil enquadramento, a banda Viet Cong faz diversas citações, post-punk com David Bowie debaixo dos braços, com rock alternativo da cena americana de coisas como Sonic Youth da fase Daydream Nation juntamente de coisas do Art Rock. Eles são canadenses e meio que criaram nesse debut um mosaico de citações sonoras das boas.


O disco anda sendo citado com propriedade de caso em boas listas de melhores do ano. É uma de nossas opções por parecer que nos próximos movimentos teremos coisas mais originais de cunho revolucionário, vamos comemorar timidamente, deixando uma festa maior para os novos intentos do grupo.




Young Fathers vem de terras Escocesas, mas seus integrantes são originários de países do continente africano, um vem da Libéria, outro de Gana e o último tem pais Nigerianos, porém foi criado em Maryland nos E.U.A, em 2014 a banda ganhou o cultuadíssimo prêmio Mercury de melhor álbum com DEAD. Tava meio na cara que nesse 2015 os caras lançariam um discaço e não foi diferente White Men Are Black Men Too, acertou em cheio, embora mais pop, a pegada discursiva cheias de observações sobre a xenofobia sofrida por imigrantes no território europeu persiste, e é muito bom que persista depois dos últimos acontecimentos em Paris.


A banda surgiu na cena musical da Europa desafiando todos em sentido amplo, não somente através do discurso urgente das letras, a sonoridade proposta por eles é instigantemente desafiadora. Fica difícil encaixar, classificar ou ajustar o som da banda em algum estilo, é bem mais fácil dizer que é música pop com diversas referências que trafegam entre o hip-hop de terceiro mundo com pitadas de soul e R&B, acabando não sendo nenhum desses estilos fica mais fácil dizer que a banda genericamente é World Music.

White Men Are Black Men Too já tem lugar cativo na lista dos melhores de 2015. É musica nova, sem fácil assimilação, feita para intrigar ouvidos menos preparados, apesar de tanta originalidade tem uma pista que são as filigranas de vocalizações pop contidas nas músicas, isso aos poucos acaba nos demonstrando que música pop é sempre música pop, seja ela feita em Londres ou em São José de Ribamar no Estado do Maranhão. 


Nenhum comentário :

Postar um comentário

Let´s rock baby