17 de mai. de 2016

Sepultura (Roots) - Metal, Espiritualidade e Raízes Brasileiras



Por Natan Castro

“Por volta de meados dos anos 90 estando em Londres a passeio, observei pinchado num viaduto da capital Inglesa o nome da banda Sepultura, nesse exato momento eu tive a verdadeira dimensão da importância que os irmãos Cavalera possuíam na música pesada (Heavy Metal) em escala mundial, é bem verdade que eles conseguiram o que ninguém da geração dos anos 80 do Rock Brasil conseguiu, sucesso para além das fronteiras do Brasil.“ (Herbert Viana/ Paralamas do Sucesso).

Muito desse reconhecimento e sucesso se deve ao último álbum lançado pela formação clássica da banda, lançado em 1996 o sexto álbum denominado “Roots” extrapolou todas as expectativas de fãs e admiradores do quarteto referente aos rumos sonoros da banda. Diz a lenda que anos antes os irmãos Cavalera foram alertados pelos “caboclos” (entidades espirituais do candomblé, religião a qual a mãe dos Cavalera é adepta) que eles produziriam algo voltado as raízes do Brasil. A inusitada junção de Metal com as raízes étnicas do país formaram o viés inovador e pretensioso do disco, ancestralidade brasileira com negros e índios pela primeira vez sendo citada por uma banda de rock nacional, o que poderia soar como bem estranho ao final do processo só fez demonstrar as imensas particularidades entre as duas coisas.

A banda e os índios
Max Cavalera conta que a ideia veio depois de assistir um filme em que o ator Tom Berenguer desce de paraquedas numa aldeia de índios, nesse momento veio a ideia de passar alguns dias numa aldeia indígena no meio do Brasil. Logo depois do sinal do verde da Roadrunner (Gravadora Holandesa) os primeiros contatos começaram até que eles pousassem de avião na aldeia dos índios Xavantes com uma equipe que envolvia técnicos e o produtor do disco. Nos dias que passaram na aldeia os integrantes e a equipe jogaram futebol com os índios, participaram do dia a dia da aldeia, comeram carne de anta e claro puderam observar alguns rituais dos Xavantes. Ainda na aldeia eles gravaram um canto dos índios com um arranjo de cordas e percussão da banda a faixa foi colocada no disco com o titulo de “Itsári” que quer dizer Roots (Raízes). 

Max Cavalera sendo pintado por um índio Xavante
Mais da influência das raízes brasileiras veio também através da participação do percursionista baiano Carlinhos Brown na faixa Ratamahatta, na letra a união de Lampião com Zé do Caixão formam o discurso de uma das musicas do disco que virou clássico imediato entre os fãs no mundo inteiro. O disco teve participação ainda do vocalista da banda Faith No More e de um iniciante o vocalista Jonathan na banda Korn. O protagonismo dos irmãos Cavalera na viagem sonora proposta no Roots, deixou todos nos meio da música pesada boquiabertos, desde os conceitos do estilo musical lançados por grandes nomes como o Black Sabbath e Led Zeppelin nos idos dos anos 70, nunca havia acontecido uma inserção de novos conceitos de uma forma tão inovadora e acertada como aconteceu no Roots. A banda optou por uma afinação baixa buscando a crueza nos sons visando cada vez mais estar próximo das raízes sonoro/percursivas de nossa formação ancestral, o estúdio escolhido para gravação do disco era um estúdio reconhecidamente vintage onde grandes discos da década de 70 haviam sido produzidos, com direitos a sessões de gravações fora realizadas em um canyon que buscaram cada vez a aproximação com os sons reais da natureza, as raízes dos sons.

Por conta dessas informações e algumas outras Roots marcou o apogeu da maior banda de rock pesado do Brasil de todos os tempos e a primeira a alcançar sucesso em escala planetária. Outro fato curioso sobre o disco é o relato do acontecido com o ex-baterista do Nirvana  Dave Grohl, segundo ele certa vez ao colocar o disco para ouvir antes de um ensaio da sua atual banda o Foo Fighters, a porrada sonora do disco estourou diversas caixas de som recém compradas por uma bagatela de 80 mil dólares. O disco vendeu até os dias atuais dois milhões de cópias e na época do lançamento chegou a ficar no terceiro lugar dos mais vendidos da Europa, batendo grandes nomes do pop como Madonna e Michael Jackson. Apesar de ter sido o canto final da melhor e mais importante formação do Sepultura, o disco continua mesmo depois de 20 anos do lançamento sendo reconhecido por músicos, produtores e jornalistas especializados em música pesada como um divisor de águas no Heavy Metal além de influenciar toda uma leva de bandas que surgiram depois, bandas de New Metal e Nu Metal citam o disco como influência direta nas suas formações.


                               

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