Por Natan Castro
Bob Dylan a gaita e o violão |
Pouquíssimos baluartes
do rock’n’roll chegaram à terceira idade com tamanha competência artística. Bob
Dylan possui lugar cativo no panteão da boa música produzida nos últimos
cinquenta anos. O jovem e desengonçado Robert Zimmerman foi festejado pela
classe artística Nova Iorquina lá pelos idos do final da década de 50 e inicio
dos 60. Apadrinhado por poetas, atores, atrizes, escritores e grandes nomes do
folk/country americano como Woody Guthrie, rapidamente a figura do menestrel
magrinho e baixinho de voz anasalada e renitente hipnotizou as plateias de
bares, casas de shows e festivais de folk music por todo o território americano,
mas não foram somente a gaita e o violão e a postura caipira, havia algo mais
por detrás dessa indumentária a chamar a atenção do público e meio musical, o
discurso cantado em versos encharcados de poesia e critica social assustava
quem parasse para ouvir o jovem Zimmerman. A imagem de artista de protesto se
configurou de maneira mais visível na apresentação no dia 28 de agosto de 1963 no
famoso discurso do pastor protestante negro Martin Luther King a favor dos
direitos civis nos Estados Unidos.
O encontro com os beatles |
A relação
estreita de Bob Dylan com a literatura e poesia realçaram em sua imagem de
artista popular marcas indeléveis, haja a vista a apropriação do primeiro nome
do poeta galés Dylan Thomas, o poeta foi uma grande inspiração para a
configuração de todo o legado poético transcrito por Bob Dylan no rock durante
toda sua longínqua carreira. Até meados dos anos sessenta Bob Dylan
imortalizou-se como um apanágio da música de raiz e protesto, por volta de 1965
após sofrer um acidente de moto, o cantor se afastou por alguns meses do meio artístico
e ao retornar assustou seus milhares de fãs ao eletrificar sua música. Até então
o set acústico personificava suas apresentações e a sua própria imagem junto ao
showbizz, a troca da gaita e do violão por guitarra, baixo e bateria enfureceu
os fãs mais puristas que de pronto o acusaram de traidor das ruas raízes sonoras.
Diz a lenda que o encontro entre Bob Dylan e os Beatles em Nova York foi o
responsável pela mudança drástica nos caminhos sonoros de sua carreira. O mesmo
aconteceu com os Beatles é certo que após o encontro o discurso das letras da
dupla Lennon & McCartney mudou bruscamente, a partir do disco Rubber Soul
as letras sofreram um amadurecimento visível, as temáticas universais tomaram o
lugar das composições juvenis. John Lennon um dos entusiastas do encontro nunca
escondeu sua admiração pela figura e genialidade poética de Bob Dylan, outra
lenda sobre o encontro diz que Bob Dylan ofereceu o primeiro cigarro de baseado
aos Beatles.
Já no final dos
anos 60 Bob Dylan já era reconhecidamente um grande nome do rock, com
reconhecimento entre público, critica e outros artistas do gênero musical, com
lançamento de discos seminais, letras atemporais, coerência artística. O profundo
senso de comprometimento com a qualidade sonora e artística de sua carreira só
aumentaram com o passar dos anos. Décadas depois e alguns movimentos musicais,
Bob Dylan é um dos raríssimos casos de genialidade artística perene e
duradoura. Se traçarmos um paralelo com grandes nomes de nossa música que
surgiram no meio musical no mesmo período de Bob Dylan, iremos perceber uma visível
diferença, no que diz respeito a criatividade duradoura nos dias atuais,
figuras como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Zé Ramalho, Milton
Nascimento e outros em nada lembram os velhos tempos na década de 60 e 70. Por motivos
como esses artistas como Bob Dylan, Neil Young e Paul McCartney se sobressaem
frente aos citados anteriormente, a fonte de inspiração e atitude artística desses
artistas parece não ter fim. Haja vista a qualidade dos discos lançados nos
últimos anos com perfeito sucesso de critica e público, talvez esse seja o
maior legado desse monstro da música mundial, ter envelhecido com dignidade e
apuro estético e artístico sem iguais.
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