6 de nov. de 2016

SAMBA JAZZ - Quando o Tio Sam Encontrou a Nossa Batucada



Advindos de uma mesma matriz sonora o samba e o jazz se reencontraram em meados da década de cinquenta. O reencontro inevitável aproximou de uma vez por todas duas vertentes sonoras que tem como pátria mãe o continente africano. Filhos da escravidão os dois estilos surgiram desse desejo premente de lamentar o destino pesado a que foram impostos. Se os negros americanos eram lançados a diversas horas de trabalhos forçados nas lavouras de algodão, os negros brasileiros não diferentemente eram forçados a trabalhar muitas vezes encurralados por açoites de malfeitores nas fazendas de riquíssimos senhores do engenho.

Brazilliance
Antes desse grande reencontro houve todo um processo de fusão da qual fizeram partes outros sub-estilos até que os dois chegassem a um amadurecimento que lhes legou a importância devida não só nos dois países como no mundo inteiro. A primeira vez que se ouviu falar na mistura entre o samba e o jazz foi no disco “Brazilliance” gravado em 1953 pelo violonista brasileiro Laurindo Almeida e o saxofonista Bud Shank, o disco é considerado o inicio dessa gloriosa junção. Pela primeira vez um músico de jazz caia de cabeça em nosso repertório improvisando como nunca se tinha visto antes. Esse disco foi editado no Brasil pela Musidisc e diz a lenda fez a cabeça de alguns jovens músicos que mais tarde revolucionariam a música através da bossa nova.

Turma da Gafieira
Outro disco de suma importância para o movimento do samba jazz foi “Turma da Gafieira” com Altamiro Carrilho (flauta), Zé Bodega e Maestro Cipó (saxes-tenor), Raul de Souza (trombone), Sivuca (acordeão), Baden Powell (violão), José Marinho (baixo) e Edison Machado (bateria). Dentro desse impressionante time de músicos, o baterista Edison Machado chamou a atenção por usar os pratos da bateria em estimulantes acompanhamentos, algo inédito e extremamente inovador para o período.


Com o devido reconhecimento da qualidade sonora trazida pela bossa nova a música pop, desencadeando na mítica apresentação dos jovens músicos brasileiros no Carnegie Hall em 1962. Alguns músicos que aqui estavam deram inicio ao que se convencionou a chamar de movimento do samba jazz, o Beco das Garrafas em Copacabana era a casa de show onde excelentes músicos apresentavam o que de melhor se produzia de música naquele período no país. Podemos citar entre esses músicos Milton Banana, Claudette Soares, Alaíde Costa, Marisa Gata Mansa, Leny Andrade (com 17 anos, sendo menor de idade era acompanha pelo pai), Pery Ribeiro, Julio Barbosa, Maestro Cipó, Hugo Marotta, Silvio Cesar, Orlann Divo, Tenório Junior, Jorginho Ferreira da Silva, Edson Maciel, João Luiz Maciel, Durval Ferreira, Dom Um Romão, Chico Batera, Victor Manga, Tião Neto, Rosinha de Valença, Manuel Gusmão, Luiz Carlos Vinhas, Hélcio Milito, Bebeto Castilho, Sylvinha Telles, Dóris Monteiro, Wanda Sá, Tito Madi, Sergio Ricardo, Candinho, Mario Castro Neves, Osmar Milito, Aurino Ferreira, Sérgio Barrozo, Roberto Menescal, Alberto Castilho, Ronaldo Vilela, Oscar Castro Neves, Jorge Ben, Toninho Oliveira, Sérgio Augusto, Marcos Valle, Lúcio Alves, Antonio Adolfo, Chico Feitosa, Mario Telles, Moacir Marques, Juarez Araújo e Odette Lara.


Beco das Garrafas (Copacabana)
O movimento ficou bastante marcado pelo surgimento dos famosos trios, a formação baixo, bateria e piano enlouqueciam todos com a profunda liberdade jazzística sendo aplicada sem pudor algum por cima de nossos temas. Desses os que mais se sobressaiam foram Edison Machado Trio, Milton Banana Trio, Tamba Trio, Zimbo Trio. Nunca é tarde lembrar que a revolução sonora proporcionada pela bossa nova não somente se resumia a batida inédita no violão criada por João Gilberto e desenvolvida por Roberto Menescal e outros, como também por culpa dos impressionantes músicos que ousaram colocar tempero musical nacional na culinária sonora dos americanos, o que causou um mar de referências musicais que até hoje é reverenciada por ouvidos atentos e treinados na tradição de uma música de inegável qualidade.


Por Natan Castro

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