Advindos de uma mesma
matriz sonora o samba e o jazz se reencontraram em meados da década de
cinquenta. O reencontro inevitável aproximou de uma vez por todas duas vertentes
sonoras que tem como pátria mãe o continente africano. Filhos da escravidão os
dois estilos surgiram desse desejo premente de lamentar o destino pesado a que
foram impostos. Se os negros americanos eram lançados a diversas horas de
trabalhos forçados nas lavouras de algodão, os negros brasileiros não
diferentemente eram forçados a trabalhar muitas vezes encurralados por açoites
de malfeitores nas fazendas de riquíssimos senhores do engenho.
Brazilliance |
Antes desse grande
reencontro houve todo um processo de fusão da qual fizeram partes outros
sub-estilos até que os dois chegassem a um amadurecimento que lhes legou a importância
devida não só nos dois países como no mundo inteiro. A primeira vez que se
ouviu falar na mistura entre o samba e o jazz foi no disco “Brazilliance”
gravado em 1953 pelo violonista brasileiro Laurindo Almeida e o saxofonista Bud
Shank, o disco é considerado o inicio dessa gloriosa junção. Pela primeira vez um
músico de jazz caia de cabeça em nosso repertório improvisando como nunca se
tinha visto antes. Esse disco foi editado no Brasil pela Musidisc e diz a lenda
fez a cabeça de alguns jovens músicos que mais tarde revolucionariam a música
através da bossa nova.
Turma da Gafieira |
Outro disco de suma importância
para o movimento do samba jazz foi “Turma da Gafieira” com Altamiro Carrilho
(flauta), Zé Bodega e Maestro Cipó (saxes-tenor), Raul de Souza (trombone),
Sivuca (acordeão), Baden Powell (violão), José Marinho (baixo) e Edison Machado
(bateria). Dentro desse impressionante time de músicos, o baterista Edison
Machado chamou a atenção por usar os pratos da bateria em estimulantes
acompanhamentos, algo inédito e extremamente inovador para o período.
Com o devido
reconhecimento da qualidade sonora trazida pela bossa nova a música pop,
desencadeando na mítica apresentação dos jovens músicos brasileiros no Carnegie
Hall em 1962. Alguns músicos que aqui estavam deram inicio ao que se
convencionou a chamar de movimento do samba jazz, o Beco das Garrafas em Copacabana
era a casa de show onde excelentes músicos apresentavam o que de melhor se
produzia de música naquele período no país. Podemos citar entre esses músicos Milton
Banana, Claudette Soares, Alaíde Costa, Marisa Gata Mansa, Leny Andrade (com 17
anos, sendo menor de idade era acompanha pelo pai), Pery Ribeiro, Julio
Barbosa, Maestro Cipó, Hugo Marotta, Silvio Cesar, Orlann Divo, Tenório Junior,
Jorginho Ferreira da Silva, Edson Maciel, João Luiz Maciel, Durval Ferreira,
Dom Um Romão, Chico Batera, Victor Manga, Tião Neto, Rosinha de Valença, Manuel
Gusmão, Luiz Carlos Vinhas, Hélcio Milito, Bebeto Castilho, Sylvinha Telles,
Dóris Monteiro, Wanda Sá, Tito Madi, Sergio Ricardo, Candinho, Mario Castro
Neves, Osmar Milito, Aurino Ferreira, Sérgio Barrozo, Roberto Menescal, Alberto
Castilho, Ronaldo Vilela, Oscar Castro Neves, Jorge Ben, Toninho Oliveira,
Sérgio Augusto, Marcos Valle, Lúcio Alves, Antonio Adolfo, Chico Feitosa, Mario
Telles, Moacir Marques, Juarez Araújo e Odette Lara.
Beco das Garrafas (Copacabana) |
O movimento ficou bastante
marcado pelo surgimento dos famosos trios, a formação baixo, bateria e piano
enlouqueciam todos com a profunda liberdade jazzística sendo aplicada sem pudor
algum por cima de nossos temas. Desses os que mais se sobressaiam foram Edison Machado Trio, Milton Banana Trio, Tamba Trio, Zimbo Trio. Nunca
é tarde lembrar que a revolução sonora proporcionada pela bossa nova não
somente se resumia a batida inédita no violão criada por João Gilberto e
desenvolvida por Roberto Menescal e outros, como também por culpa dos impressionantes músicos
que ousaram colocar tempero musical nacional na culinária sonora dos americanos,
o que causou um mar de referências musicais que até hoje é reverenciada por
ouvidos atentos e treinados na tradição de uma música de inegável qualidade.
Por
Natan Castro
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