Depois do
vinil, agora é a vez de voltar a ouvir música com chiado de fundo com a volta
das fitas cassetes.
Em São
Paulo, o produtor musical e sócio do estúdio FlapC4 Fernando Lauletta aposta
nesse mercado. O estúdio adquiriu em março uma máquina copiadora de cassetes,
com investimento de R$ 50 mil. Ela tem capacidade de gravar até cem fitas por
hora.
“Se não
fosse por complicações de importação, já estaríamos produzindo essas primeiras
5.000 fitas que compramos”, disse Lauletta.
Há meses, o
produtor tenta importar as fitas virgens, mas esbarra em burocracias locais,
dos EUA e do Canadá. Desde 2000, as fitas não são mais fabricadas no Brasil.
Nos próximos
meses, porém, elas já poderão ser, em parte, feitas por aqui. “Nós conseguimos
um fornecedor que tem os moldes antigos e que fará a moldura plástica. A fita
magnética será importada em rolos”, diz Lauletta.
As primeiras
matrizes que chegarem serão para gravação de músicas de artistas independentes.
“Essa procura é mais da galera do rock, do metal e do rap. São artistas que
estão fora do mainstream [mercado comercial da música]. Eles vendem as fitas
como suvenires em shows”, afirmou o produtor. O custo para a banda que for
gravar suas músicas no cassete ficará entre R$ 11 e R$ 15.
A Livraria
Cultura, a primeira livraria a colocar discos de vinil importados nas
prateleiras, tem interesse em trazer os cassetes importados dos artistas que
lançam seus produtos na velha mídia, mas ainda não há data para isso.
No Rio de
Janeiro, um grupo de músicos da cena de rock independente carioca criou o
Cassete Club, um projeto de gravações de singles em fita cassete, comandado por
Lê Almeida e João Casaes.
Os artistas
criaram um selo e têm lançado vários discos de bandas independentes em
cassetes. “Sempre tive envolvimento grande com essa mídia. Existe uma textura
de som que só se alcança com a fita”, afirma Almeida.
Eles gravam
as matrizes e mandam para uma fábrica na Argentina com tiragem de até cem
unidades. O custo de uma fita produzida no país vizinho é de R$ 8. As bandas
costumam vendê-las por R$ 20. O preço é inferior ao praticado no lançamento de
um CD, em torno de R$ 35. Já um vinil nacional custa cerca de R$ 90.
Segundo
Almeida, ter um fabricante de cassete no Brasil seria muito bom, já que a
demanda está crescendo e o limite de tiragem para produzir na Argentina impede
o aumento da produção.
Ele associa
o aumento da procura à crise econômica, pois os custos das fitas são bem
menores do que prensar o vinil e até mesmo o CD.
Os fãs da
fita são unânimes em afirmar que quem procura a música na sua forma mais crua,
como nos formatos analógicos, sabe apreciar o momento de ouvir um disco por
completo.
Se você tem
de 20 anos de idade ou menos, pode estar pensando: “Tá, mas do que estamos
falando mesmo?”. Houve um tempo pré-internet, anterior até mesmo ao CD, em que
as pessoas saíam pelas ruas com um aparelho chamado walkman.
Perto dos
130 gramas do iPhone 6, parecia uma bigorna de quase meio quilo. Mas dava para
escutar a música que desse na telha, sem ficar refém do rádio, nessa novidade
portátil introduzida em 1979 pela japonesa Sony.
Dentro ia um
dos últimos hits da mídia analógica: a fita magnética, que vinha enrolada
dentro de um retângulo plástico e onde dava para capturar novos sons e
reproduzir áudios pré-gravados.
Quem
curtiria uma tecnologia tão obsoleta hoje? Jed Shepherd, dono da gravadora
independente Post/Pop, de Londres, questiona a ideia de que, no universo das
vendas físicas, CD é a melhor pedida.
À Folha ele
repete a frase que mais ouviu ao abrir o selo: “Que isso, Jed? Não vai
funcionar nem em 1 milhão de anos”. Em 24 meses, lançou fitas de 50 bandas, de
veteranas (The Prodigy) a calouras, como a Gunship.
Em geral,
são lotes pequenos, de 50 exemplares, alguns customizados —no lado B da
Gunship, por exemplo, o britânico gravou a trilha de “Ataque dos Camelos
Mutantes”, jogo do videogame Commodore 64 (1982-1994).
Vinis,
legais de novo? Talvez na semana passada. Descolada mesmo (até agora) é a fita
cassete. Abreviada para K7 no Brasil, a mídia magnética embarcou na mesma onda
retrô que deu status cult aos LPs anos atrás.
Kanye West e
Eminem estão entre os artistas que vêm lançando suas músicas na relíquia. As
lojas da Urban Outfitters, satélites da geração milênio para as últimas
tendências, vendem a preço médio de US$ 13 (R$ 41) essas e outras novidades não
tão contemporâneas assim.
Uma delas é
a trilha do filme “De Volta para o Futuro”, de 1985. Justin Bieber, outro que
aderiu à mídia anciã, nasceu nove anos depois.
Lançado
oficialmente em 1963, pela holandesa Philips, o K7 viveu seu auge nos anos 1980
e atravessou as últimas décadas no modo zumbi.
Sucateado
pelas novas tecnologias, sobreviveu se agarrando a rincões do mercado —fitas
com mensagens religiosas, por exemplo, continuaram populares, sobretudo no
interior.
O livro
“Retromania”, sobre cultura pop, tem uma tese para explicar por que os cassetes
voltaram à moda: se nos anos 2000 o barato era revisitar gêneros musicais, o
fetiche atual é por mídias antiquadas.
“Todo o
mundo quer bancar o arqueólogo”, diz Marcelo Conter, autor de “Lo-Fi - Música
Pop em Baixa Definição”.
Para Conter,
dois motivos justificam o retorno da fita: 1) Elas são mais baratas —na Urban
Outfitters, um LP custa em média duas vezes mais; 2) Em termos de qualidade, há
quem veja diferencial.
“Ela tem
textura sonora diferente, mais quente, e o fato de dificultar pular as faixas
privilegia a audição contínua, o que favorece álbuns conceituais”, afirma
Conter.
Enquanto
continuar apostando num nicho, o cassete deve passar bem. No mercado desde
1969, a americana National Audio Company fabrica anualmente cerca de 20 milhões
de fitas, virgens (sem nenhum áudio) ou pré-gravadas.
Após anos de
sufoco, as vendas da companhia aumentaram 31% em 2015. Até junho deste ano,
“estão muito além da primeira metade do ano passado”, diz Steve Stepp,
presidente da empresa (que não divulga o lucro).
Lado
A, Lado B
É
possível gravar dos dois lados da fita. Dependendo do comprimento, permite
diversas durações de gravação. A mais comum é de 60 minutos, sendo 30 minutos
de cada lado.
Fita
Virgem
É
possível comprar a fita virgem, em branco (que não tem nenhum áudio gravado),
ou com música gravada. Além disso, também é possível regravar em cima da
gravação anterior.
POR QUE SAIU DE MODA
·
Nos anos 1980, as fitas foram
consideradas ameaça à indústria musical pelo seu potencial de gravação
simplificada e de pirataria
·
Com a difusão dos CDs, seguida pela
ampliação do acesso à internet, as fitas perderam popularidade.
POR QUE ESTÁ VOLTANDO
·
A novidade acompanha a onda retrô que
recuperou o prestígio dos discos de vinil
·
Nos últimos anos, as fitas ganharam
status de cult e voltaram a conquistar espaço
·
O principal público vem do mercado
independente, como bandas de punk e metal.
Mídia traz peculiaridades, diz colecionador
DE SÃO
PAULO
Para um
colecionador, a fita cassete não é apenas um fetiche e muitas delas trazem
peculiaridades únicas.
O
colecionador Ezio Zoyd tem cerca de mil fitas cassetes e uns 30 tipos de
toca-fitas em seu apartamento. As fitas estão carregadas de histórias que ele
conta com muito entusiamo.
“Algumas
bandas lançam material exclusivo só em cassete. Na 'Record Store Day' [evento
mundial que reúne selos e gravadoras], por exemplo, os artistas fazem questão
de lançar um produto específico. Uma banda que sou fã, a Goldfrapp, lançou esse
ano cem fitas cassetes com músicas exclusivas”, conta Zoyd.
Segundo o
colecionador, os cassetes também são envolventes devido aos encartes
específicos, como uma versão do álbum Axis: Bold as Love, segundo The Jimi
Hendrix Experience, lançado em 1967 e relançado recentemente.
“Essa fita
do Hendrix vem com uma observação polêmica na capa, um adesivo que informa que
a remasterização foi autorizada pela família dele, que detém os direitos
autorais. Na época, eles haviam processado uma gravadora que relançou gravações
inéditas sem autorização”, afirma Zoyd.
Fonte: Site Uol
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