Um dos símbolos mais
marcantes do rock, talvez seja o poder de ter nas obras produzidas por seus
artistas e bandas essa atemporalidade, algo que é seminal para sua importância como
fenômeno cultural e artístico. Não há diferença alguma entre uma pincelada de um
pintor como Pablo Picasso e um acorde de Paul McCartney ambos lidam com o campo
das ideias, a arte surge primeiro no campo onírico das ideias para logo depois
vir a tona aos olhos de todos no caso de Picasso e no caso de McCartney aos
nossos ouvidos.
Mas a arte além de ser
atemporal, ela também não foi e nunca será estática. Assim como as escolas que
eternizaram a vanguarda artística, com estéticas como a do surrealismo que
acabou sendo apreendida e produzida no campo da poesia, o teatro, a pintura e a
própria música. O rock como gênero musical sempre necessitou dessa renovação,
em diversos momentos o rock que parecia já ultrapassado por uma nova geração,
foi renovado por ela mesma e assim sucessivamente. Esse fenômeno camaleônico de
sempre se renovar é uma das características que o sustentam como substrato sonoro-sociológico
nesses quase sessenta anos de existência.
A
década de 80 com seus Anjos e Demônios
Nos anos 80 diferente da
deflagração de novos sub-gêneros do rock por parte da critica especializada. Os
próprios músicos e bandas começaram a forjar as denominações e meio que
direcionarem o rumo de cada movimento. Então tivemos a New Wave do rock pop,
tivemos a New Wave do rock pesado, tivemos os góticos ingleses, tivemos os
hardcore americanos, o crossover, a new psicodelia do verão de 1988, correndo
por fora o inicio da dinastia de Michael Jackson e Madonna trazendo para si o
titulo de novo rei e nova rainha da música pop, que antes era centralizada toda
sobre a marca poderosa dos Beatles.
Por volta da segunda metade
da década até o final, começaram a aparecer bandas que numa primeira análise
representavam uma dissidência com toda a atitude do metal verdadeiro iniciadas
pelo Iron Maiden, Judas Priest, Motorhead. Isso pelo motivo da estética ter se
glamourizado demais, ficaram conhecidos como “Metal Farofa” e tinham como características
calças de couro coladíssimas, cabelos compridos e esvoaçados, letras de
qualidade duvidosa, muita maquiagem e finalizando eram conhecidos como “destruidores
de quartos de hotel”, as bandas mais conhecidas foram, Guns ’n’ Roses, Motley
Crue, Poison, Twisted Sister, Withesnake. O rock ficou meio que banalizado, chato,
empobrecido em estética e qualidade sonora abaixo da média.
Dos
porões da fria Seattle surgia uma luz brilhante no fim do túnel
O rock de garagem sempre
existiu desde os primórdios dos anos 50 e claro sempre vai existir, é lá que
todo moleque rebelde coloca a agitação de seus hormônios adolescentes em cima
de um instrumento, e muito das vezes quanto menos se espera nasce uma nova
mutação, dessas experiências sonoras que o rock tanto necessita para seu
misterioso processo de renovação.
No final dos anos 80, esse
processo silencioso acabou se dando na cidade de Seattle nos Estados Unidos. O ambiente
underground de Seattle existia tal que existia no restante dos Estados Unidos,
na Europa, na América Latina e em outros cantos do globo. Mas quiseram os
deuses do rock que ali naquela cidade frienta, que anos atrás tinha nos dado o
maior guitarrista de todos os tempos, nascesse exatamente no final da década a
maior banda de rock dos últimos tempos. O Nirvana de Kris Novoselic (Baixo),
Dave Grohl (Bateria) e Kurt Cobain (Guitarra).
Nirvana,
da garagem aos maiores palcos de música do planeta
Das bandas da cena
underground de Seattle o Nirvana era uma das melhores, como líder um cara
magro, cabelos loiros, viciados em drogas pesadíssimas e se não bastasse maníaco-depressivo.
O rock não escolhe seus heróis, nunca escolheu não existe nenhuma logica entre
sucesso e vida pessoal, quando o assunto são astros do rock. Kurt Cobain havia
sido tal qual John Lennon meio que desprezado por sua mãe desde muito cedo,
morou na rua, comeu o pão amassado pelo capetas e todos os seus asseclas. Mas teve
uma alma caridosa que não sabemos por que cargas d’água sempre acreditou no seu
talento, uma namorada que durante um tempo acolheu o músico em sua casa, dando
grana, comida, roupa lavada e o deixando livre para colocar suas ideias pra
frente.
Mas Kurt Cobain não era
somente uma doidão drogado de plantão, ele como poucos estudou a fundo tudo que
havia sido produzido de importante o rock nos anos que precederam a chegada de
Nirvana. Quando esteve no Brasil numa entrevista a MTV, falou com muito carinho
dos Mutantes, falando inclusive da importância da banda para a música
brasileira, chegando a deixar um bilhete de agradecimento a Arnaldo Baptista
pela sua genialidade musical.
Kurt Cobain diferente do que
muitos possam pensar estava certo de toda a revolução que ele podia causar no
rock, tanto ele sabia que depois que a banda explodiu mundialmente e ele se
apercebeu que seu nome já estava gravado no livro dourado do gênero musical,
ele mesmo o próprio Kurt Cobain como suicida que foi começou a deixar pistas do
que ia acontecer. Em diversas musicas, inclusive em clipes vemos citações a
armas de fogo, o próprio nome da banda numa análise mais profunda explica
melhor essa análise. No acústico de Nova York meses antes do seu suicídio, se
verificarmos no cenário da apresentação podemos observar velas brancas, lírios brancos,
sem que todos percebessem ele estava se despedindo e ele curtiu aquele momento
com toda a dor ou alegria possível, e quem somos nós hoje para julgar o gênio.
Nevermind,
o estopim de uma revolução
O nirvana a maior banda de
rock dos últimos tempos, escalou o muro quase intransponível do mainstream e
usou como escada um disco chamado Nevermind.
Com isso eles inovaram porque até então nenhuma banda do underground não havia
conseguido algo parecido, eles não só conseguiram chegar lá, como chegaram com
toda a propriedade possível, sem vender o que eles tinham de melhor sua qualidade
musical, o disco todo foi feito e produzido aos moldes do trio. Houve a
produção de um grande produtor o Butch Vig, mas depois de tanto tempo estudando
e construindo uma sonoridade totalmente autoral, só restava ao produtor enquadrar
as ideias deles ao mundo comercial do mainstream. O resultado todos nós
sabemos, se perfazia ali um mito que dura até hoje e vai durar durante muitos e
muitos anos. Até que certo dia os deuses do rock e da música resolva dar
noticias através de um cara ou uma garota ou uma banda de algum lugar qualquer desse
enorme planeta, que surja com a missão de revolucionar a nossa forma de
escutar, de nos comportar e até de nos vivermos.
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Let´s rock baby