25 de out. de 2015

Porque o Rock Nacional Sempre Foi Uma Cópia do Rock Gringo


Por Natan Castro

Daqui a algumas décadas um fenômeno chamado rock’n’roll, esse gênero musical que teve seu inicio lá nos idos da década de 1950, certamente estará sendo estudado em livros escolares e universidades mundo afora, tal qual estudamos hoje a revolução francesa, a revolução industrial e a guerra fria. Toda a mudança comportamental que afetou uma massa gigantesca de jovens no planeta, foi uma das principais características dessa revolução que antes de ter sido sonora, foi também social e porque não dizer econômica, haja vista toda uma mudança brusca na forma de criar e produzir espetáculos artísticos proposta e implantadas pelo rock’n’roll.

Se hoje vemos, estudamos e consumimos as obras de arte de pintores da Renascença, e se hoje compramos, assistimos e escutamos as obras dos músicos eruditos do século XVIII e XIX, não tenham dúvidas que os discos de grandes nomes como Beatles, Stones, Nirvana, Mutantes e Radiohead serão também estudados e consumidos como obra de arte. Junto com o fenômeno do rock veio um bocado de modificações, em novas formas de se vestir, se alimentar, protestar, divertir, enriquecer e até mesmo de amar. O mundo mudou com a chegada do rock e mudou mais ainda a forma da sociedade encarar a juventude, os jovens passaram de meros expectadores para protagonistas dos motores da história.

Depois da explosão do rock nos Estados Unidos, em sua segunda década de existência ele foi acolhido e disseminado em massa pela Inglaterra. Depois se espalhou de forma impressionante pelo planeta inteiro, a Beatlemania podemos dizer foi a maior responsável por essa pandemia roqueira em âmbito mundial. Com a chegada da internet ficou fácil perceber e verificar nos arquivos que os Beatles foram a mola propulsora para toda nova banda de qualquer parte civilizada do planeta naqueles mágicos anos sessenta.

O Brasil não fugiu a essa regra, a própria Jovem Guarda e a Tropicália que seriam desses dois movimentos musicais se não fosse às informações trazidas pelo rock’n’roll? De lá pra cá o dito rock nacional sempre, quase sempre mesmo não passou de um reflexo do rock gringo, vejamos a seguir um pouco sobre essa informação:

Roberto Carlos e a Turma da Jovem Guarda

O chamado Rei Roberto Carlos, alcunha que o mesmo inclusive recusa, foi nomeado assim não por acaso, bem como Elvis foi nomeado o Rei do Rock. Roberto surgiu com a Jovem Guarda que é fruto do rock americano e inglês, o movimento foi uma jogada de marketing do produtor cultural Carlos Imperial pegando carona no sucesso absurdo da Beatlemania. Um exemplo disso eram as diversas versões de sucessos de bandas artistas de fora feitos pelos artistas integrantes da Jovem Guarda.






Rock Nacional nos Anos 70, Psicodelismo e Progressivo

O Rock Nacional produzido nos anos 70, nada mais é que uma reprodução dos fundamentos da psicodelia do final dos anos 60 e do Rock Progressivo do inicio dos anos 70. Bandas como Som Nosso de Cada Dia, O Terço, Vimana, Moto Perpétuo, Modulo 1000 e outras viajaram nessas referencias e produziram uma sonoridade tal qual bandas como Pink Floyd, Emerson Lake & Palmer, Yes.









Rock de Brasília e o Rock Brazuka anos 80

No final dos anos 70 uma turma de jovens de Brasília se juntaram e montaram bandas de sucesso que ficou conhecida no país inteiro como o Rock de Brasília, eles eram na grande maioria filhos de Embaixadores, professores universitários e funcionários do alto escalão do palácio do planalto. Essa turma basicamente fazia uma releitura do movimento punk rock deflagrado por volta de 1977 na Inglaterra e nos Estados Unidos. Bandas conhecidíssimas hoje entre a galera como Legião Urbana (ex-Aborto Elétrico), Capital Inicial, Plebe Rude, Finis Africae e outras.










Em São Paulo e no Rio de Janeiro não foi diferente, bandas como Blitz, Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Ira, RPM, Inocentes, Barão Vermelho, Titãs, Biquíni Cavadão e diversas outras. Essas bandas nada mais faziam que reproduzir uma sonoridade advinda de terras estrangeiras.







Desde o inicio houve uma lógica que os artistas e bandas brasileiras de rock não fugiram, sempre que um novo sub-gênero do rock surgia nos states, por aqui os produtores estavam a postos para de alguma forma criar uma cópia disso, claro que fosse rentável aos olhos da indústria fonográfica. Foi assim com o pessoal da Jovem Guarda (Beatlemania), rock nacional anos 70 (rock psicodélico e progressivo), Rock Brasília (Movimento Punk Inglês e Tio Sam), rock anos 80 (New Wave, Pós-Punk, Rock Alternativo, Gótico), rock anos 90 pessoal da Banquela Records (Movimento Grunge e British Rock, Heavy Metal e Trash Metal Europeu e Americano), rock nacional anos 2000 (New Metal e Emocore)

Quando o Brasil Transpôs a Influência

Os Mutantes

A banda paulistana composta por Rita Lee e os irmãos Arnaldo Baptista e Sergio Dias, em meio ao auge da Beatlemania começaram a forjar uma simbiose sonora com um cara mais brasileira. Os integrantes da banda também sofreram a influencia dos Beatles, Stones e outros grandes nomes do rock de fora, mas o que os difere dos demais, foi que eles se recusaram a apenas a ficar reproduzindo arranjos ou simplesmente criando coisas baseadas nos famosos acordes de suas bandas favoritas. Os três fizeram a partir disso uma mutação de fato, misturaram as influencias de fora com coisas de nossa música, juntamente com muita informação de música latina, criando assim um lance com a cara deles. Os Mutantes em seus poucos anos de existência com essa formação conseguiram criar através dessa mutação uma identidade própria que ninguém nem daqui e muito menos de fora conseguiu realizar ou muito menos copiar. A banda desde os anos 90 é tida no mundo do rock como uma das bandas mais originais de todos os tempos, músicos como Beck, Sean Lennon e bandas como Belle & Sebastian, Primal Scream, Sonic Youth e varias outras citam Os Mutantes como referencia certa. Temos aqui um exemplo sensacional a nível mundial de um grupo de rock que não só transpôs a influencia do rock gringo, como através dele conseguiu criar outra coisa, que hoje é conhecida no mundo inteiro como a música dos Mutantes.





Chico Science e Nação Zumbi

A banda recifense comandada por Chico Science é outro exemplo dessa evolução. A revolução estético-sonora proposta por Chico e sua turma, veio para revolucionar não somente o rock nacional como também a própria MPB. Nos fundamentos do Mangue-Beat Chico e Fred 04 propunham a junção de toda a vanguarda da música pop com a tradição nordestina do maracatu e diversas outras manifestações culturais de Pernambuco e do nordeste. Sendo assim eles juntaram as guitarras distorcidas do rock alternativo com as batidas dos tambores de nossas tradições afro-brasileiras criando uma sonoridade inédita. A revolução sonora trazida ao mundo do rock pela turma de recife chamou a atenção de gente como David Byrne (Ex- Talking Heads) e outros músicos conceituados da música pop. A Nação Zumbi e Os Mutantes representam as duas exceções da regra, esses dois grandes nomes do rock tupiniquim e da MPB conseguiram transcender as influencias e criarem sonoridades inéditas. Nada mais autêntico em tempos de tão pouca verdade musical.



Nenhum comentário :

Postar um comentário

Let´s rock baby