23 de mai. de 2014

NHEENGATU - TITÃS (LANÇAMENTO)


Por Natan Castro

É sabido de todos a lacuna que a geração do rock nacional dos anos 80 deixou no cenário musical brasileiro quando a cena começou a esfriar no começo dos anos 90. No começo dos anos 80 um grito de liberdade engasgado na garganta de um grupo grande de jovens saiu e reverberou nos quatro cantos do país, em forma de canções de amor, canções políticas e outros assuntos de uma pós-adolescência sufocada por uma ditadura ridícula que assolava a nação. De lá pra cá sem sombra de dúvidas o cenário foi perdendo suas forças e atualmente se mostrava quase inexistente. Mas eis que em pleno 2014 um grupo dos mais influentes daquela geração nos entrega nas mãos um álbum que a priori surge no atual cenário como a ponta de um iceberg de mudanças que porventura poderão acontecer a partir dele. Estou falando de “Nheengatu” álbum recém lançado pelos Titãs.

O titulo do álbum fala de uma língua criada pelos jesuítas quando da sua chegada nas terras brasileiras, que tinha o intuito de ajudar todas as tribos indígenas a se comunicar de uma forma uniforme, ou seja, todas as tribos daquele momento se entenderiam nessa espécie de dialeto. A capa é a Torre de Babel, segundo o relato bíblico deus ordenou que todos deveriam nessa torre falar línguas diferentes. Desta forma o titulo do álbum se contrapõe a arte da capa e termina fazendo uma analogia a muito daquilo que acontece nos tempos atuais no Brasil. Segundo os integrantes da banda no momento era providencial através de um álbum fazer essa espécie de relatório sonoro da sociedade brasileira. A banda declarou em entrevista que as canções começaram a ser escritas no intervalo dos shows da turnê de comemoração de 25 anos do clássico Cabeça Dinossauro. E em fevereiro próximo eles entraram em estúdio para gravar as músicas, o álbum tem a produção de Rafael Ramos. A atual formação titânica se resume hoje a Tony Belotto, Paulo Miklos, Branco Melo e Sergio Brito, eles convidaram o baterista Mario Fabre para gravar a bateria por conta da recente saída de Charles Gavin.

Com uma sonoridade crua e em alguns momentos minimalista, em sua grande maioria as canções do álbum possuem uma média de três minutos. As letras tratam de assuntos polêmicos que se encontram em voga nesse emaranhado de informação que vivemos hoje como miséria nas grandes cidades, crack, postura policial perante as manifestações, pedofilia, redes sociais, violência doméstica, dentre outros. Em momento algum ouvimos solos nas músicas, os arranjos são secos e certeiros com o intuito de dar com mais ligeireza possível o recado, o que se ouve no álbum beira a simplicidade do punk, mas a verdade é que ouvimos nesse álbum a gênese dos Titãs, como não se ouvia há algum tempo. Dos 14 petardos do disco somente uma é de outro artista a canção Canalha do maldito Walter Franco, até nisso a banda acertou talvez nenhuma outra canção se encaixaria tão bem nesse discaço. Arrisco aqui em dizer que não escutava algo tão original em termos de rock nacional desde Afrociberdelia de Chico Science e Nação Zumbi. Nheengatu pode não ter traduzido toda a confusão da atual sociedade pseudo-organizada do Brasil, mas um idioma esse álbum fala muito bem em especial, o idioma dos grandes álbuns de rock 'n' rool. 

                   

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