É sabido de todos a lacuna que a
geração do rock nacional dos anos 80 deixou no cenário musical brasileiro
quando a cena começou a esfriar no começo dos anos 90. No começo dos anos 80 um
grito de liberdade engasgado na garganta de um grupo grande de jovens saiu e
reverberou nos quatro cantos do país, em forma de canções de amor, canções
políticas e outros assuntos de uma pós-adolescência sufocada por uma ditadura
ridícula que assolava a nação. De lá pra cá sem sombra de dúvidas o cenário foi
perdendo suas forças e atualmente se mostrava quase inexistente. Mas eis que em
pleno 2014 um grupo dos mais influentes daquela geração nos entrega nas mãos um
álbum que a priori surge no atual cenário como a ponta de um iceberg de
mudanças que porventura poderão acontecer a partir dele. Estou falando de
“Nheengatu” álbum recém lançado pelos Titãs.
O titulo do álbum fala de
uma língua criada pelos jesuítas quando da sua chegada nas terras brasileiras,
que tinha o intuito de ajudar todas as tribos indígenas a se comunicar de uma
forma uniforme, ou seja, todas as tribos daquele momento se entenderiam nessa espécie
de dialeto. A capa é a Torre de Babel, segundo o relato bíblico deus ordenou
que todos deveriam nessa torre falar línguas diferentes. Desta forma o titulo
do álbum se contrapõe a arte da capa e termina fazendo uma analogia a muito daquilo
que acontece nos tempos atuais no Brasil. Segundo os integrantes da banda no
momento era providencial através de um álbum fazer essa espécie de relatório
sonoro da sociedade brasileira. A banda declarou em entrevista que as canções
começaram a ser escritas no intervalo dos shows da turnê de comemoração de 25
anos do clássico Cabeça Dinossauro. E em fevereiro próximo eles entraram em
estúdio para gravar as músicas, o álbum tem a produção de Rafael Ramos. A atual
formação titânica se resume hoje a Tony
Belotto, Paulo Miklos, Branco Melo e Sergio Brito, eles convidaram o baterista Mario
Fabre para gravar a bateria por conta da recente saída de Charles Gavin.
Com uma sonoridade crua e em
alguns momentos minimalista, em sua grande maioria as canções do álbum possuem
uma média de três minutos. As letras tratam de assuntos polêmicos que se
encontram em voga nesse emaranhado de informação que vivemos hoje como miséria nas grandes cidades, crack,
postura policial perante as manifestações, pedofilia, redes sociais, violência
doméstica, dentre outros. Em momento algum ouvimos solos nas músicas, os
arranjos são secos e certeiros com o intuito de dar com mais ligeireza possível
o recado, o que se ouve no álbum beira a simplicidade do punk, mas a verdade é
que ouvimos nesse álbum a gênese dos Titãs, como não se ouvia há algum tempo. Dos
14 petardos do disco somente uma é de outro artista a canção Canalha do maldito
Walter Franco, até nisso a banda acertou talvez nenhuma outra canção se encaixaria
tão bem nesse discaço. Arrisco aqui em dizer que não escutava algo tão original
em termos de rock nacional desde Afrociberdelia de Chico Science e Nação Zumbi.
Nheengatu pode não ter traduzido toda a confusão da atual sociedade pseudo-organizada
do Brasil, mas um idioma esse álbum fala muito bem em especial, o idioma dos
grandes álbuns de rock 'n' rool.
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